Os agricultores – e os agricultores portugueses em particular – enfrentam uma longa lista de desafios, desde ameaças globais como a desertificação e a pressão populacional, até questões locais como a baixa fertilidade dos solos e a alteração do clima Mediterrânico.
Apesar de tudo isto, o professor Ricardo Braga a Escola Superior de Agricultura da Universidade de Lisboa, especialista em agricultura de precisão, encontra motivos para estar otimista quanto ao futuro. Atribui o seu otimismo aos avanços tecnológicos que a agricultura portuguesa conheceu nos últimos anos.
São muitas as ameaças à agricultura que estão fora do controlo do indivíduo. Algumas parecem até intransponíveis, mesmo coletivamente. No entanto, alguns problemas ainda poderão ser resolvidos ao nível da exploração do terreno – e as novas tecnologias poderão ajudar.
“Se é um agricultor, a coisa mais importante que poderá fazer é gerir o seu terreno corretamente e otimizar o seu sistema de produção”, diz Braga. “Se fizer isso – se puder produzir mais com menos recursos e materiais, a um custo menor e poluindo menos – estará numa posição mais forte e mais protegida de algumas dessas restrições.”
Braga acredita que existem muitos desafios que os agricultores portugueses poderão enfrentar com a ajuda da tecnologia agrícola. Aqui ficam três.
Escassez de mão de obra
Portugal conta com um grande número de trabalhadores estrangeiros para o cultivo de culturas especializadas, cuja produção ainda não se encontra totalmente mecanizada. Simplesmente, não existem trabalhadores portugueses suficientes disponíveis para as tarefas agrícolas com mão de obra mais intensiva.
A escassez de mão de obra é agravada pelas tendências demográficas que afetam a agricultura: os agricultores de hoje estão a envelhecer e as gerações mais jovens têm menos interesse em empregos relacionados com a produção de alimentos.
A tecnologia agrícola poderia mitigar ambas as tendências, permitindo que os produtores produzissem tanto ou mais rendimentos com menos mão de obra. Por exemplo, os produtores que trabalham com a Ceres Imaging podem usar dados aéreos – em vez de inspeção visual – para detetar problemas de irrigação.
A tecnologia que economiza o esforço de trabalho também poderá ajudar os agricultores mais velhos a permanecerem ativos no campo por mais tempo, reduzindo o esforço físico necessário para algumas tarefas. Ao mesmo tempo, Braga acredita que a agricultura modernizada poderá ser mais apelativa para os jovens que possam estar particularmente interessados na inovação tecnológica.
Perceção pública
Em toda a Europa, o termo “agri-bashing” passou a descrever a perceção negativa do público em torno da agricultura. Os críticos acusam os agricultores de serem gananciosos e indiferentes à sustentabilidade ambiental das suas operações – por exemplo, devido ao uso indiscriminado de pesticidas. A perceção negativa desencoraja os trabalhadores rurais e pode afetar a produtividade – alguns até enfrentaram violência física e manifestações nas suas propriedades agrícolas.
Braga acha que a tecnologia agrícola poderá começar a reduzir o fosso entre a perceção pública da agricultura e a realidade, onde os agricultores também são gestores ambientais apaixonados. “Muitos agricultores têm dificuldade em apresentar provas incontestáveis de que não são poluidores”, diz Braga. “Se tivermos sensores, registos que permitam monitorizar e demonstrar – com evidências – que, de facto, não estamos a poluir ou a usar demasiada água, este processo tornar-se-á muito mais transparente.”
Quando se trata deste tipo de contabilidade, os clientes da Ceres têm a vantagem de contar com dados da colheita ao nível individual da planta. Este nível de precisão permite monitorizar, medir e comparar com mais exatidão os resultados de várias práticas de sustentabilidade.
Alterações climáticas
Os agricultores em Portugal enfrentam grandes oscilações de temperatura em curtos períodos de tempo, bem como períodos de seca severa. À medida que os efeitos das alterações climáticas se tornam mais visíveis, os especialistas esperam ver os extremos climáticos do Mediterrâneo tornarem-se ainda mais dramáticos e menos previsíveis.
Os agricultores não conseguem mudar o clima, mas Braga acredita que poderão adaptar-se com a ajuda de dados agrícolas. Os sensores que medem os indicadores de saúde das colheitas e fornecem relatórios em tempo real permitem que os agricultores respondam rapidamente às mudanças nas condições e tomem decisões mais estratégicas sobre irrigação, fertilização e outras práticas críticas para proteger o rendimento.
Este tipo de resposta atempada não é algo hipotético: as tecnologias que o permitem fazer já se encontram disponíveis em Portugal, e a um custo cada vez mais acessível.
Conselhos para investir em tecnologia agrícola
Embora Braga acredite no potencial da adoção de tecnologia agrícola para beneficiar a agricultura portuguesa, enfatiza que ter simplesmente mais dados sobre a saúde das colheitas não é suficiente. Investir nos recursos para melhor entender e interpretar os dados consiste na chave para os resultados.
“O primeiro passo é obter os dados”, diz Braga. “Dependendo da colheita, tal poderá ser feito de várias maneiras. E o segundo passo, se a operação não tiver pessoal suficiente para a tarefa, é encontrar consultores e organizações que possam ajudar a interpretar os dados e [orientar sobre] o que devem fazer a seguir.
Além de ajudar os produtores a descobrir problemas desconhecidos e oportunidades nas suas propriedades agrícolas, a Ceres oferece apoio especializado e consultoria individual para a implementação de alterações no terreno.
“Em última análise, não basta apenas olhar para a tecnologia. É preciso olhar para a tecnologia, mas também para o que se vai fazer com ela”, diz Braga.